Nossos trabalhos
Sistemas Agrocerratences SACEs - Oziel Alves
Os Sistemas Agrocerratenses são uma nova tecnologia social que vem sendo desenvolvida por todo o Cerrado. Trata-se de um sistema análogo ao agroflorestal, mas, diferente deste, o SACE considera as particularidades do cerrado sentido restrito (fitofisionomias de savana brasileira), ao invés de emular um sistema florestal.
O SACE possibilita conciliar a produção agrícola e a restauração ecológica de ambientes, a partir de plantios biodiversos, inspirados na estrutura e composição de espécies vegetais nativas do Cerrado (capins, ervas, arbustos e árvores nativas), integrados com culturas agronômicas, de interesse das comunidades rurais locais. Neste, as plantas agrícolas convivem com o protagonismo de espécies nativas, promovendo serviços ecossistêmicos, o aumento da produtividade e a efetividade da restauração.
Essa nova tecnologia social, o SACE, é uma solução, com técnica simples e sustentável, que visa atender a demanda por sistemas de restauração produtiva para paisagens alteradas e degradadas do Cerrado, bioma que, depois da Amazônia, mais perdeu área de vegetação nativa em 2021, onde a área desmatada representa quase um terço, ou 30,2%, do total de vegetação desmatada no país.
Este sistema de restauração produtiva, além de promover benefícios ambientais, com a possibilidade de restaurar ecossistemas e garantir a sustentabilidade ambiental, tem o potencial de aumentar diretamente o acesso à diversidade na alimentação, promovendo a soberania e segurança alimentar e nutricional para grupos e comunidades locais, e de aumentar e diversificar suas fontes de renda, através de novas cadeias de comercialização, tais como coleta e venda de sementes de plantas nativas do bioma Cerrado, e do fomento da bioeconomia com produtos da sociobiodiversidade do bioma.
A demanda de sementes nativas vem crescendo nos últimos anos, em função do esforço de atendimento de projetos de restauração ambiental em todo Brasil, que têm sido amplamente fomentados. No Cerrado não tem sido diferente, e diante desse contexto, serão necessárias grandes quantidades de sementes nativas para viabilizar tais projetos, o que representa um crescimento no mercado desses bens e o incentivo da atividade de coleta e venda de sementes. Em vista disso, tal atividade tem potencial promissor para promover o aumento e diversificação de renda para comunidades agrícolas, a curto e longo prazo.
Partindo do exposto, e de que o Sistema Agrocerratense é planejado e desenvolvido com base em três princípios: (1) o participativo, em que a comunidade local é envolvida em todas as etapas, desde o planejamento, implantação ao manejo da área de restauração produtiva, de modo a criar um elo íntegro entre as famílias e a proposta de plantio. São utilizadas metodologias participativas para realizar a leitura da paisagem, a escolha de espécies-chave, o desenho, o plantio e o manejo. (2) a pluriatividade econômica, que permeia as diversas formas de retorno financeiro do sistema, em destaque a comercialização de sementes, produção de alimentos, fitoterápicos e artesanatos. (3) o protagonismo de espécies nativas e da agrobiodiversidade, que diz respeito à diversidade de espécies e de hábitos de vida, que representa a ocupação do espaço. As espécies vegetais são em maioria nativas de savanas e consorciadas com espécies não nativas e agronômicas desde que sejam com baixas exigências edafoclimáticas, manejo prático e não invasoras.
Sistemas Agrocerratences SACEs - Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais
O projeto “Implementação de experiências de restauração produtiva nos assentamentos da reforma agrária inseridos em quatro estados brasileiros”, parceria entre a PEQUI – Pesquisa e Conservação do Cerrado e a WWF – World Wide Fund for Nature, propõe de forma inovadora o plantio de Sistemas Agrocerratenses (SACE) em assentamentos de reforma agrária do Movimento Sem Terra (MST). Os SACE são uma proposta fundamentada nos preceitos da agroecologia, realizando plantios integrados com espécies de capins, ervas, arbustos e árvores do Cerrado junto às principais espécies de cultivares agronômicas, como milho, variedades de feijão, tubérculos, dentre outras espécies de valor cultural. A escolha das espécies é baseada principalmente no interesse das famílias agricultoras por cultivá-las. Estas devem ter um potencial restaurador, alimentar e econômico, com a finalidade de prover a diversidade genética e restauração ecológica do Cerrado, considerando diversos benefícios ecossistêmicos, além de fortalecer a agricultura e a soberania alimentar das comunidades rurais.
O projeto se propôs a implementar 0,5 hectare de SACE em quatro estados brasileiros sob domínio do bioma Cerrado: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais, totalizando 2 hectares de SACE. Todos esses estados sofrem diretamente com a pressão territorial da agropecuária, dificultando a realidade dos agricultores familiares quanto a manter suas produções de forma sustentável. Os assentamentos de reforma agrária onde foram realizadas as experiências serão modelos de plantios construídos de forma participativa com as famílias locais, considerando as necessidades das pessoas envolvidas e os recursos de sementes e mudas disponíveis na região, como também a disponibilidade de água que é um fator limitante. A construção desses modelos de forma participativa também considera os saberes tradicionais e ancestrais no manejo e as formas de cultivos, agregando aos SACE um valor cultural profundo com as comunidades..
O projeto conseguiu alcançar o objetivo de implementar dois hectares de sistemas agrocerratenses, teve a oportunidade de reunir diversos atores, com as famílias da comunidade, universidade, organizações sociais, ONGs e redes de comercialização de sementes para a recuperação de áreas degradadas com o foco no Cerrado. Os sistemas de produção alcançaram o objetivo de apresentar riqueza de espécies no âmbito das espécies nativas do Cerrado e cultivares agrícolas de curto e longo ciclo de vida, como também a incorporação de diferentes estratos e formas de vida, contribuindo com a diversificação genética dos quintais produtivos.